Ao entardecer, um adulto cansado do seu desassossego interior, de tanto caminhar, resolve entrar numa Igreja. Ao entrar, os seus ouvidos percebem uma música de fundo: “Ave Maria”, de Schubert. A Música e todo o ambiente silencioso convidaram-no a sentar e por momentos ali estar.
Sentou-se diante do Sacrário e permaneceu num diálogo íntimo com Deus… Caminhou em pensamento com Aquele que verdadeiramente o amava e o esperava em cada novo dia. Sente que ali está protegido… Todo o ambiente o tranquiliza, o serena, o faz despertar para o essencial da vida… Nesta íntima união da alma com Deus evoca todos os seus momentos de ausência.
Poucos minutos depois, entra na Igreja uma criança de aproximadamente 6 anos, seus olhos olhavam o tudo, olhavam cada recanto oculto da Igreja, cada imagem silenciada. Parecia que cumprimentava cada uma das imagens como se já as conhecesse a algum tempo. A ternura que emanava do olhar era contagiante, na mão levava um caderno e uns lápis de colorir, por fim sentou-se diante do sacrário, genuflectiu, olhou intimamente para Deus Pai, num olhar que Ele o olhava. Permaneceu em silêncio. Antes de sair, olhou para o adulto que o olhava com admiração e perguntou-lhe: - Porque me olhas? Estás admirado com a minha presença aqui? Não te admires. A este amigo, venho visitar sempre que posso, nunca o deixo só…. Ele necessita da minha, da tua, da companhia de quem ama… Gostas de deixar um amigo sozinho? Eu não. Gosto de vir visita-lo a sua casa. Uma coisa te peço: fica com ele, não o deixes só! Porque quando eu cá não estiver, estarás tu… e ele terá sempre alguém a fazer-lhe companhia. Por fim retirou-se.
O adulto continuou sentado e calado...naquele momento pensou nas palavras do miúdo, na atitude orante de ambos, na inocência daquele acto infantil, na transparência daquela criança e na gratuidade do seu coração, no exemplo de testemunho que lhe tinha passado.
Recordou momentos de procura, e concluiu que tudo lhe estava tão próximo…. Porque se ausentava tanto tempo da sua presença…
Recordou olhares que merecem respeito e sinceridade. Recordou “face a face” as palavras que ecoavam no seu coração… “não o deixes só… não o deixes só.”
O que levaria aquela criança e entrar sozinha numa Igreja e a estar com quem a ama? Não importava naquele momento uma resposta concreta… mas sim a lição de vida que levava consigo naquele dia… pois tantas vezes que a ausência era para si uma constante.
A verdade e o tempo que vivera foram razões que o levaram a uma procura da própria verdade para desalentar um grande vazio interior, vontades de deixar esvanecer as “noites escuras” em prol de uma autenticidade de vida.
Para este adulto abriu-se um caminho que deu início a muitos outros caminhares, e na humildade daquela criança tinha aprendido andar em verdade…
[RJC]
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