quinta-feira, 4 de setembro de 2008

A missão, como diálogo



A missão da Igreja – e do cristão, enquanto membro da Igreja e discípulo de Jesus – é o cumprimento do mandato de Jesus que veio, falou e está entre nós, realizando a missão que o Pai Lhe deu. Esta é apresentada por Jesus em Lc 4, 18-19 e sintetiza-se no anunciar a Boa Nova como paz, alegria, saúde e libertação.
Jesus, como Filho de Deus e Seu Enviado, tinha (e tem) o «monopólio» da missão que procurou anunciar e quer continuar a fazê-lo connosco e por nós, fazendo vir fora da pessoa as centelhas dos valores de paz, verdade e bem que lhe estão no coração, desde a criação à imagem e semelhança de Deus.
A partir do mandato confiado aos Seus amigos estes são convidados a anunciá-lo, criando comunhão, na vida e no testemunho, partilhando a sua experiência de escuta e de seguimento com as experiências, também ricas e pessoais de cada pessoa humana, que, com rectidão, procure e ame a verdade e ame e queira o bem.
A missão do membro da Igreja e do discípulo de Jesus consistirá, sempre, numa proposta de vida, vivida em reciprocidade de consciências que, na escuta e na procura recta e séria da verdade, se abre e motiva ao diálogo, respeitador e amigo, com cada irmão que é, já em si mesmo, uma centelha de verdade e uma presença de Jesus Cristo (cf. GS 16).
Nesta missão, contam mais as pessoas e os factos que as palavras, pois a fé do conhecimento precisa do teste e da prova do amor e da relação que consiste em viver e cumprir o fundamental da missão que se torna mesmo o distintivo da pertença (cf. Jo 13, 34-35).
Anunciar o Evangelho e ser missionário no cumprimento da missão de Jesus Cristo não é colocar-se do lado da verdade frente ao lado das pessoas; será sim e sempre sintonizar-se na comunhão com as pessoas, colocando-se na escuta e no seguimento da Pessoa que é Caminho, Verdade e Vida. Este espírito conduz ao diálogo, na comunhão para a escuta e nunca é cedência nem fraqueza; é, sim, respeito pela Pessoa, pela Verdade e pela Missão que vem do Pai. Ele comunica o conteúdo desta missão (paz, alegria, saúde e libertação) a todos os Seus filhos, ao modo da cultura e das circunstâncias em que cada um está e vive, e somente o Evangelho é capaz de colocar em condições de acolhimento da missão as realidades que O não conhecem.
Este momento é inculturação, quando, sem destruição da cultura e das realidades pessoais em que cada um vive, uma e outras são enriquecidas pelo conteúdo da missão e se abrem aos valores que são «mais-valia» na realização concreta, enquanto acrescentam paz, alegria, saúde e libertação aos valores naturais que conhecem e promovem. Esta interculturalidade beneficia, sem dúvida, os cristãos missionários e os destinatários da missão, pois uns e outros partilham, dialogam e aprendem, reciprocamente, os muitos valores que existem nuns e noutros, numas e noutras culturas, recebendo, de uma forma inculturada e à maneira de pessoa livre e amada por Deus, as graças da missão.
Por isso, somente pode ser missionário ou agente da missão do Evangelho quem sabe amar, quem sabe escutar e quem sabe partilhar, em comunhão, o tesouro que cada um é e tem, recebido no dom da vida e que é chamado a viver e a fazer crescer em procura constante da Pessoa que é fonte de Verdade, de Caminho e de Vida para toda a humanidade.

D. ILÍDIO PINTO LEANDRO, Bispo de Viseu

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