sexta-feira, 31 de outubro de 2008
AMOR
«Um dia, a Margarida passeava como de costume pela floresta e viu uma borboleta presa numas silvas. Com todo o cuidado, para não estragar as suas lindas asas, libertou-a. A borboleta voou imediatamente. Mas, antes de partir para longe, quis agradecer este gesto de amor. E disse à Margarida:
- Para te agradecer, irei realizar o teu maior desejo. Diz-me: qual é?
Margarida pensou um instante e depois respondeu:
- O meu maior desejo é ser feliz.
Então a borboleta aproximou-se dela e murmurou-lhe qualquer coisa ao ouvido. Depois desapareceu.
Margarida cresceu, tornou-se adulta. E ninguém na sua terra era tão feliz como ela. Quando os vizinhos lhe perguntavam pelo segredo da sua felicidade, limitava-se a sorrir e dizia:
- Segui o conselho de uma borboleta!...
Os anos passaram. Quando já velhinha, os netos disseram-lhe:
- Avó, revela-nos esse segredo. Que te disse a borboleta?
E foi então que a sorridente Margarida, já de rosto enrugado, lhes disse:
- Ela disse-me que, para viver feliz, precisava primeiro de tornar os outros felizes. Disse-me que os outros precisavam de mim!»
quinta-feira, 30 de outubro de 2008
terça-feira, 28 de outubro de 2008
É a fome que pede o pão.
«Três companheiros aventuraram-se ao deserto, sem saber lá muito bem os que o esperava por esses areais. Depois de percorrer horizontes sem fim e canículas que só o deserto podia cozinhar, as provisões chegaram ao fim e os três aventureiros não sabiam o que fazer à vida. restava-lhes apenas uma pequena provisão, que, era evidente, não chegava para os três. Quando muito daria para ajudar um a subsistir e levar a cabo a travessia. O problema agora era escolher o sobrevivente, já que isso implicava a morte dos outros dois. È claro que cada um advogava a sua própria causa, por motivos, cada qual o mais convincente, mas por aí nunca se chegaria a um acordo.
Resolveram então esperar pela noite e conforme o sonho que cada um tivesse para resolver esta situação, assim se decidiria.
Seu dito, seu feito. Ao outro dia, ainda o sol se espreguiçava nesses orientes de Seca e Meca e já os três estavam com as cartas em cima da mesa. Para contar o sonho que os salvaria da morte anunciada.
O primeiro sonhou que, ali mesmo, em pleno deserto, encontrara um velho beduíno, homem de rara sabedoria e de sentença certeira, que, depois de ouvir o seu caso, fora peremptório: ele mesmo deveria comer o farnel, pois que era um homem bom e edificante como já se não via e o nosso mundo tem falta desses homens que, mais que pelas obras, falam por aquilo que são.
O segundo, no seu sonho viu um anjo que o confortava e o convenceu que o sobrevivente devia ser ele. Homem serviçal como ele, sempre pronto a abrir a bolsa ao primeiro que estendesse a mão, fazia falta a este mundo tão povoado de egoístas e desaforos que só imagina quem anda por cá.
O terceiro tinha ares de um pouco comprometido. De admirar nele que encontrava sempre a solução justa para qualquer imprevisto que aparecesse. Despachado como era, não esteve com meias medidas e foi direito ao assunto. Não tivera sonho nenhum, ninguém lhe apareceu, por mais que velasse e matutasse. Mas confessou que sentiu dentro de si uma fome tamanha que foi ao farnel e comeu, sem tempo nem disposição para pensar em mais nada».
[In Sereis minhas testemunhas, Adélio Torres Neiva]
Os caminhos que percorremos estão abertos e, na entrada destes caminho talvez não nos tenhamos apercebido do seguinte dístico: Decide e arrisca! Nestes caminhos que traçamos há momentos para parar, para reflectir, para estarmos a sós e em grupo, mas acima de tudo há momentos para decidir e arriscar! «Esta é a vontade de Deus, a vossa santificação» (1Tes 4,3). Qual será a tua resposta ao apelo de Deus?
segunda-feira, 27 de outubro de 2008
INSCRIÇÃO PARA UMA LAREIRA
A vida é um incêndio: nela
dançamos, salamandras mágicas
Que importa restarem cinzas
se a chama foi bela e alta?
Em meio aos toros que desabam,
cantemos a cancão das chamas!
Cantemos a cancão da vida,
na própria luz consumida...
[Mário Quintana]
domingo, 26 de outubro de 2008
S. Paulo, através dos tempos
«S. Paulo é uma figura que domina sobre os apóstolos de todos os tempos.
As suas palavras têm sido inspiração e luz para os homens e as mulheres de todos os tempos.
As suas cartas, ao lado do Evangelho, são o livro que nós melhor conhecemos: um livro que nós lemos praticamente todos os dias. Quer queiramos, quer não, estamos marcados por ele.
Foi um homem que viveu todo um mundo de experiencias: não se encontra facilmente uma pessoa que tenha vivido tantas experiencias e com tanta profundidade».
[Pe. Adélio Torres Neiva, In S. Paulo e a Missão sem Fronteiras]
quarta-feira, 22 de outubro de 2008
SOLIDARIEDADE
«Solidariedade… Ela é, nos Evangelhos, pedra de toque da evangelização e até da salvação (Mt 25, 31-46). Estes grupos assumem, cada vez mais, este carácter de interesse e ajuda a necessitados. Não é necessário ir com pretensões a fazer grandes obras… mas é necessário ir para, realmente, prestar um serviço a quem necessita. Nesse sentido, não se deve ir para a missão apenas ou sobretudo para se ser mais santo, para se enriquecer pessoalmente ou para se encontrar a si mesmo… Vai-se porque se quer ajudar humildemente alguém! Outra coisa é se, no final de uma experiencia missionária, se chega à conclusão de que se recebeu mais do que aquilo que se deu (até pela experiencia comunitária marcante que em geral se faz na missão…).»
[In Teologia da Missão, José Nunes, op]
E tu, falas com Ele?
Ao amanhecer, Paulo visitou um amigo para lhe colocar algumas questões. Esse amigo vivia num convento. A companhia tocou. Foi atendido por outro amigo que não o amigo com quem Paulo queria colocar as suas questões. Foram chama-lo. O amigo veio ao seu encontro. Paulo disse-lhe:
- Bom dia, não queria continuar o meu caminho sem antes lhe perguntar. Todos os Domingos, ou quando por aqui venho sou convidado a rezar, a rezar pelos missionários, pelos pobres, pelos pecadores… pelo mundo! No entanto só me mandam rezar, mas nunca ninguém me explicou como o devo fazer, nunca ninguém me ensinou a rezar. Como se reza?
O amigo olhou calma e serenamente para ele e disse-lhe:
- Tens tempo? Vem e segue-me.
Percorreram os claustros, seguiram os corredores, entraram numa pequena e singela capela. O amigo que o tinha guiado disse-lhe:
- Fala com Ele.
O rapaz retorquiu:
- Com Ele? Mas eu vim para que me explicasse como rezar, não para falar com Ele. Vim para falar consigo, para que me ensinasse a rezar.
O amigo apontando para o sacrário disse-lhe novamente:
- Fala com Ele.
Paulo ficou sem falar… O seu coração estava ocioso. Tinha vindo falar com um amigo e esse amigo tinha-lhe deixado ali. Porque o teria feito. Teria muito que fazer? Estaria ocupado. Porque o «aprisionara» na capela? Falar o que? Quem responderia? Apetecia-lhe fugir. E começou a contestar todas as questões que lhe surgiam na mente.
Na «música calada, na solidão sonora», que o invadia, continuava a ecoar calmamente o silêncio, o coração dele de turbulento calmamente serenava… passado um longo, longo tempo, Paulo saiu da capela e foi procurar o seu amigo. Quando o encontrou disse-lhe duas palavras:
- Obrigado amigo!
Num terno abraço se despediu. Sempre que podia e a vida o permitia, Paulo tocava a campainha daquele convento e perguntava ao amigo:
-Posso falar com Ele?
terça-feira, 21 de outubro de 2008
Aparecimento dos grupos de voluntariado missionário
[In Teologia da Missão, José Nunes, op]
Conversa com Irma Cidália Moreira | 18 de Outubro de 2008
- Irma Cidália, ensine-nos um cântico? - foi o pedido.
E as vozes uniram-se para o entoar!
Mais notícias sobre este dia pode encontra-las em:
segunda-feira, 20 de outubro de 2008
ESTA TARDE
domingo, 19 de outubro de 2008
ENTREVISTA COM O CARMELITA JOÃO DE SOUSA, MISSIONÁRIO
Sim, em Portugal temos poucos… Somos pequeninos. Mas na Ordem sempre houve abertura para as missões… e isso era falado durante o curso de Teologia. Eles vinham da Índia, da África e da América. Conheci aquelas grandes figuras, embora agora as confunda um pouco.
Eles vinham e falavam-nos das Missões, e olha que nos animavam. Durante o tempo da nossa formação teológica essa ideia tinha muita força. Os Provinciais promoviam muito as missões… os priores e professores também… e havia a União Missionária de Estudantes Carmelitas, a UMEC.
Uma forma de se animarem uns aos outros…
Sim, e depois tínhamos a revista Obra Máxima através da qual o director e os colaboradores mais próximos nos animavam também.
Por fim vieste…
Sim, mas se não insistissem demasiado para eu vir… eu ainda lá estava. Se não insistissem tanto eu aguentaria lá não sei quantos mais anos… não me teria cansado por ficar lá mais 20, 30 anos… eu aguentaria… mandaram-me vir, pois fazia falta… e contrariado, aceitei…
Rebelde, não fui… Aceitei e vim. Mas a nível de Igreja fazia mais falta lá do que aqui.
Um missionário tem alegrias no anúncio do Evangelho?
Tem, mas lá não é como aqui. É outro estilo, outra vida, outras vivências… não podemos pensar numa igreja cheia de pessoas. É quando é. Frequentemente é um grupinho de pessoas, que se não tem aquela eucaristia não tem mais nenhuma…
Foi assim…
Foi assim. Não sou nenhum herói que a pátria não condecorou, nem nenhum santo que a Igreja não canonizou…. Mas…
Mas daí até não seres nada… tu eras um apaixonado pelas missões… P. Sousa, muito obrigado! Missionário, a tua bênção…
Oh…
Custa-te dar a bênção a um padre?
Um pedinte não pede a bênção a outro pedinte…
Beatificação dos pais de Santa Teresinha
Santa Teresinha
sábado, 18 de outubro de 2008
ENTREVISTA COM O CARMELITA JOÃO DE SOUSA, MISSIONÁRIO
Trinta feitos… O P. Fidel, Provincial, perguntou-me um dia se estava se estava disposto a seguir… e eu disse: Sim! Eu sempre fui de dizer sim aos superiores.
Como foi a organização?
O P. Ângelo Ferreira e o Irmão Matias estiveram na Missão de Lourenço Marques; eu e o Irmão Manuel Vieira em Freixiel. Era a mesma Diocese, e o bispo era D. Custódio Alvim Pereira.
Mas o Irmão Manuel só viveu comigo três ou quatro meses. Ele não se aguentou, aquilo era muito duro… é preciso ter estômago, resistência.
P. Sousa, ainda és missionário?
Eu sei lá o que sou… Claro que sou! Eu fui e sou um missionário de coração e de corpo inteiro. A missão não acaba nunca, nem cem anos depois de morrermos!
Quando embarquei parti sonhador e com imenso gosto. Mas hoje já não partiria, já não tenho forças. Nem por obediência partiria, acho eu…
Sabes que quando começou a guerra nós viemos de férias. A ideia dos superiores era que não regressássemos. Mas eu enfrentei os superiores que me queriam reter aqui. Julgo que fui valente naquela altura. Disse-lhes que tínhamos que lutar ao lado daquela Igreja pobre, que a Ordem não estava assim tão pobre que não pudéssemos lutar e trabalhar com a Igreja moçambicana… e que bem me podiam dispensar… Pedi para falar com o Provincial, que me disse: «Autorizo que tu regresses às Missões!». E eu para lá regressei contente!
Aqueles eram tempos novos e desafios novos que se apresentavam. Eu só fiquei obrigado a uma coisa: entender-me com o sr. Bispo e a avaliar a situação: «Quando vires que não der, regressa. És livre.», disse-me o Provincial. E olha que me entendeu melhor que os nossos daqui.
E eu que tinha a ideia que tu te recusaras a regressar? Que te obrigaram a vir…
Sim. E também ouves a falar um para cada lado, e perguntas… o que percebem eles? Eu tinha já uma certa ideia das missões da Ordem, na América e na Índia e havia mais que um ou dois frades que deram nome a Navarra…
Sim e que agora vão a santos… mas tu parece que querias ser mártir… com tanto esforço e sacrifício…
Não. Não queria. Mas tive de vir quando queria ficar mais tempo. As coisas ficaram muito difíceis. O sr. Bispo mostrou-se sempre disponível, mas a guerra tornou tudo impossível.
ENTREVISTA COM A IRMÃ CIDÁLIA, MISSIONÁRIA
[Mesmo na indecisão Cristo caminha a vosso lado]
Jovens: não tenhais medo de caminhar! Não tenhais medo de dar qualquer passo na vida. Mesmo na indecisão Cristo caminha a vosso lado. Um missionário é aquele que muito recebe. Eu tenho dado muito pouco e tenho recebido e crescido muito mais, em humanidade e em todos os aspectos. Um missionário tem que estar disposto a aprender. Quando um jovem sente o desejo de se entregar, quando sente a vocação, este maravilhoso dom de Deus, deve passar à disponibilidade: deve estar disposto a aprender muito. Que nada se interponha entre o jovem e a realização da vocação!
No calar e no ouvir está a sabedoria de um missionário. Evangelizar é um desafio muito grande, mas vale a pena ser persistente, lutar e carregar a cruz, como diria nosso pai São João da Cruz. A vocação é como um martelo que vai batendo lentamente e vai ressoando em nós. Se tu ao martelares bateres na mão e não no prego então isso irá doer muito, será uma dor constante. Jovens sede construtores, sede daqueles que cravam pregos e não amachucam as mãos! Não tenhais medo, que nada perdeis, muito ireis ganhar em serdes missionários.
sexta-feira, 17 de outubro de 2008
ENTREVISTA COM O CARMELITA JOÃO DE SOUSA, MISSIONÁRIO
P. João de Sousa, quando regressaste das Missões?
Em fins de Janeiro ou inícios de Fevereiro de 1980.
Estiveste em Moçambique. Qual foi a missão em que estiveste?
Estive em três sítios diferentes: Freixiel, Madragoa e Xaixai.
Estiveste sozinho?
Um missionário nunca está sozinho. Chegamos a ser cinco missionários carmelitas portugueses. O P. Ângelo Ferreira, o P. Alfredo Bento, o Irmão Matias, o Irmão Manuel Vieira e eu.
O P. Ângelo foi em Dezembro de 1968 e eu parti no Infante D. Henrique no dia 4 Janeiro de 1969. Naveguei durante 16 dias! Chegar a Lourenço Marques foi um desafogo!
E estive nas Missões 11 ou 12 anos.
Qual era o teu trabalho?
Era o trabalho de qualquer missionário: prover a dignidade humana e a vida espiritual e litúrgica da Missão. Para isso cheguei a dar aulas de matemática na Escola Secundária!
Como era a Missão?
A Missão era a menina dos olhos do sr. Eng. Trigo de Morais, de Vila Flor. Era um grande amigo da Ordem. Chamou em primeiro lugar as Irmãs Carmelitas, a quem ele tinha imenso amor. Foi ele quem fez o Carmelo e tudo.
Ele superentendia a obra do desenvolvimento do Ultramar, por isso tinha facilidade em gerir o processo. E como sempre desejou levar uma comunidade orante para lá…
"Servos e apóstolos de Jesus Cristo"
PARA O DIA MUNDIAL DAS MISSÕES DE 2008
19 de Outubro 2008
82º Dia Missionário Mundial
Por ocasião do Dia Missionário Mundial, gostaria de vos convidar a reflectir acerca da urgência que subsiste em anunciar o Evangelho inclusivamente nesta nossa época. O mandato missionário continua a constituir uma prioridade absoluta para todos os baptizados, chamados a ser «servos e apóstolos de Jesus Cristo» neste início de milénio. O meu venerado Predecessor, o Servo de Deus Paulo VI, já afirmava na Exortação Apostólica Evangelii Nuntiandi, que «evangelizar constitui, de facto, a graça e a vocação própria da Igreja, a sua mais profunda identidade» (n. 14). Como modelo deste compromisso apostólico, apraz-me indicar particularmente São Paulo, o Apóstolo das nações, uma vez que no corrente ano celebramos um jubileu especial a ele dedicado. Trata-se do Ano Paulino, que nos oferece a oportunidade de nos familiarizarmos com este insigne Apóstolo, que recebeu a vocação de proclamar o Evangelho aos gentios, em conformidade com quanto o Senhor lhe tinha prenunciado: «Vai! É para longe, é para junto dos pagãos que Eu te hei-de enviar» (Act 22, 21). Como deixar de aproveitar a oportunidade oferecida por este jubileu especial às Igrejas locais, às comunidades cristãs e a cada um dos fiéis separadamente, para propagar até aos extremos confins do mundo «o anúncio do Evangelho, força de Deus para a salvação de todo aquele que acredita» (cf. Rm 1, 16)?
1. A humanidade tem necessidade de libertação
A humanidade tem necessidade de ser libertada e redimida. A própria criação – afirma São Paulo – sofre e nutre a esperança de entrar na liberdade dos filhos de Deus (cf. Rm 8, 19-22). Estas palavras são verdadeiras também no mundo de hoje. A criação sofre. A humanidade sofre e espera a verdadeira liberdade, aguarda um mundo diferente, melhor; espera a «redenção». E, em última análise, sabe que este novo mundo esperado supõe um homem novo, supõe «filhos de Deus». Vejamos mais de perto a situação do mundo de hoje. Se, por um lado, o panorama internacional apresenta perspectivas de um desenvolvimento económico e social promissor, por outro, chama a nossa atenção para algumas graves preocupações no que diz respeito ao próprio porvir do homem. Em não poucos casos, a violência caracteriza os relacionamentos entre os indivíduos e os povos; a pobreza oprime milhões de habitantes; as discriminações e às vezes até as perseguições por motivos raciais, culturais e religiosos forçam numerosas pessoas a fugir dos seus países para procurar refúgio e segurança noutros; quando não tem como finalidade a dignidade e o bem do homem, quando não tem em vista um desenvolvimento solidário, o progresso tecnológico perde a sua potencialidade de factor de esperança e, ao contrário, corre o risco de agravar os desequilíbrios e as injustiças já existentes. Além disso, há uma ameaça constante no que se refere à relação homem - meio ambiente, devido ao uso indiscriminado dos recursos, com repercussões sobre a própria saúde física e mental do ser humano. Depois, o futuro do homem é posto em risco pelos atentados contra a sua vida, atentados estes que adquirem várias formas e modalidades.
Diante deste cenário, «sentimos o peso da inquietação, agitados entre a esperança e a angústia» (Constituição Gaudium et Spes, 4) e, preocupados, interrogamo-nos: o que será da humanidade e da criação? Existe esperança para o futuro, ou melhor, há um futuro para a humanidade? E como será este futuro? A resposta a estas interrogações provém-nos do Evangelho. Cristo é o nosso futuro e, como escrevi na Carta Encíclica Spe Salvi, o seu Evangelho é a comunicação que «transforma a vida», incute a esperança, abre de par em par as portas obscuras do tempo e ilumina o porvir da humanidade e do universo (cf. n. 2). São Paulo compreendeu bem que somente em Cristo a humanidade pode encontrar a redenção e a esperança. Por isso, sentia imperiosa e urgente a missão de «anunciar a promessa da vida em Jesus Cristo» (2 Tm 1, 1), «nossa esperança» (1 Tm 1, 1), a fim de que todos os povos possam participar na mesma herança e da mesma promessa por meio do Evangelho (cf. Ef 3, 6). Ele estava consciente de que, desprovida de Cristo, a humanidade permanece «sem esperança e sem Deus no mundo (Ef 2, 12) – sem esperança porque sem Deus» (Spe Salvi, 3). Com efeito, «quem não conhece Deus, mesmo podendo ter muitas esperanças, no fundo está sem esperança, sem a grande esperança que sustenta toda a vida (cf. Ef 2, 12)» (Ibid., n. 27).
2. A Missão é uma questão de amor
Por conseguinte, anunciar Cristo e a sua mensagem salvífica constitui um dever premente para todos. «Ai de mim – afirmava São Paulo – se eu não anunciar o Evangelho!» (1 Cor 9, 16). No caminho de Damasco, ele tinha experimentado e compreendido que a redenção e a missão são obra de Deus e do seu amor. O amor de Cristo levou-o a percorrer os caminhos do Império Romano como arauto, apóstolo, anunciador e mestre do Evangelho, do qual se proclamava «embaixador aprisionado» (Ef 6, 20). A caridade divina tornou-o «tudo para todos, a fim de salvar alguns a todo o custo» (1 Cor 9, 22). Considerando a experiência de São Paulo, compreendemos que a actividade missionária é a resposta ao amor com que Deus nos ama. O seu amor redime-nos e impele-nos rumo à missão ad gentes; é a energia espiritual capaz de fazer crescer na família humana a harmonia, a justiça, a comunhão entre as pessoas, as raças e os povos, à qual todos aspiram (cf. Carta Encíclica Deus Caritas Est, 12). Portanto é Deus, que é amor, quem conduz a Igreja rumo às fronteiras da humanidade e quem chama os evangelizadores a beberem «da fonte primeira e originária que é Jesus Cristo, de cujo Coração trespassado brota o amor de Deus» (Deus Caritas Est, 7). Somente deste manancial se podem haurir a atenção, a ternura, a compaixão, o acolhimento, a disponibilidade e o interesse pelos problemas das pessoas, assim como aquelas outras virtudes necessárias para que os mensageiros do Evangelho deixem tudo e se dediquem completa e incondicionalmente a difundir no mundo o perfume da caridade de Cristo.
3. Evangelizar sempre
Enquanto a primeira evangelização em não poucas regiões do mundo permanece necessária e urgente, a escassez de clero e a falta de vocações afligem hoje várias Dioceses e Institutos de vida consagrada. É importante reiterar que, mesmo na presença de dificuldades crescentes, o mandato de Cristo de evangelizar todos os povos permanece uma prioridade. Nenhuma razão pode justificar uma sua diminuição ou uma sua interrupção, dado que «a tarefa de evangelizar todos os homens constitui a missão essencial da Igreja» (Paulo VI, Exortação Apostólica, Evangelii Nuntiandi, 14). Esta missão «ainda está no começo, e devemos empenhar-nos com todas as forças no seu serviço» (João Paulo II, Carta Encíclica Redemptoris Missio, 1). Como deixar de pensar aqui no Macedónio que, tendo aparecido em sonho a Paulo clamava: «Vem à Macedónia e ajuda-nos»? Hoje são inúmeros aqueles que esperam o anúncio do Evangelho, aqueles que se sentem sequiosos de esperança e de amor. Quantos se deixam interpelar profundamente por este pedido de ajuda que se eleva da humanidade, abandonam tudo por Cristo e transmitem aos homens a fé e o amor por Ele! (cf. Spe Salvi, 8).
4. «Ai de mim se eu não anunciar o Evangelho!» (1 Cor 9, 16)
Caros irmãos e irmãs, «duc in altum»! Façamo-nos ao largo no vasto mar do mundo e, aceitando o convite de Jesus, lancemos as redes sem temor, confiantes na sua ajuda constante. São Paulo recorda-nos que anunciar o Evangelho não é um título de glória (cf. 1 Cor 9, 16), mas uma tarefa e uma alegria. Estimados irmãos bispos, seguindo o exemplo de Paulo, cada um se sinta «prisioneiro de Cristo em favor dos pagãos» (Ef 3, 1), consciente de que nas dificuldades e nas provações pode contar com a força que dele nos provém. O Bispo é consagrado não apenas para a sua diocese, mas para a salvação do mundo inteiro (cf. Carta Encíclica Redemptoris Missio, 63). Como o Apóstolo Paulo, ele é chamado a ir ao encontro daqueles que estão distantes, dos que ainda não conhecem Cristo, ou que ainda não experimentaram o seu amor libertador; o seu compromisso consiste em tornar missionária toda a comunidade diocesana, contribuindo de bom grado, em conformidade com as possibilidades, para destinar presbíteros e leigos a outras Igrejas, para o serviço de evangelização. Assim, a missão ad gentes torna-se o princípio unificador e convergente de toda a sua actividade pastoral e caritativa.
Vós, queridos presbíteros, primeiros colaboradores dos bispos, sede pastores generosos e evangelizadores entusiastas! Não poucos de vós, ao longo destas décadas, partiram para os territórios de missão, a seguir à Carta Encíclica Fidei Donum, cujo 50º aniversário há pouco comemorámos, e com a qual o meu venerado Predecessor o Servo de Deus Pio XII deu impulso à cooperação entre as Igrejas. Formulo votos a fim de que não definhe esta tensão missionária nas Igrejas locais, apesar da escassez de clero que aflige não poucas delas.
E vós, amados religiosos e religiosas, caracterizados por vocação por uma forte conotação missionária, levai o anúncio do Evangelho a todos, especialmente aos que estão distantes, mediante um testemunho coerente de Cristo e um seguimento radical do seu Evangelho.
Todos vós, prezados fiéis leigos que trabalhais nos diversos âmbitos da sociedade, sois chamados a participar na difusão do Evangelho de maneira cada vez mais relevante. Assim, abre-se diante de vós um areópago complexo e multifacetado a ser evangelizado: o mundo. Dai testemunho com a vossa própria vida, do facto de que os cristãos «pertencem a uma sociedade nova, rumo à qual caminham e que, na sua peregrinação, é antecipada» (Spe Salvi, 4).
Conclusão
Caros irmãos e irmãs, a celebração do Dia Missionário Mundial encoraje todos vós a tomar uma renovada consciência da urgente necessidade de anunciar o Evangelho. Não posso deixar de relevar com profundo apreço a contribuição das Obras Missionárias Pontifícias para a acção evangelizadora da Igreja. Agradeço-lhes o apoio que oferecem a todas as Comunidades, de maneira especial às mais jovens. Elas constituem um válido instrumento para animar e formar missionariamente o Povo de Deus e alimentam a comunhão de pessoas e de bens entre os vários membros do Corpo místico de Cristo. A colecta, que no Dia Missionário Mundial se realiza em todas as paróquias, seja um sinal de comunhão e de solicitude recíproca entre as Igrejas. Enfim, que no povo cristão se intensifique cada vez mais a oração, meio espiritual indispensável para difundir no meio de todos os povos a luz de Cristo, «a luz por antonomásia» que resplandece sobre «as trevas da história» (Spe Salvi, 49). Enquanto confio ao Senhor a obra apostólica dos missionários, das Igrejas espalhadas pelo mundo e dos fiéis comprometidos em várias actividades missionárias, invocando a intercessão do Apóstolo Paulo e de Maria Santíssima, «Arca da Aliança viva», Estrela da evangelização e da esperança, concedo a todos a Bênção apostólica.
Vaticano, 11 de Maio de 2008.
Benedictus PP. XVI
quinta-feira, 16 de outubro de 2008
ENTREVISTA COM A IRMÃ CIDÁLIA, MISSIONÁRIA
[Estar sempre abertas às necessidades]
Quando as Carmelitas Missionárias foram convidadas pelos Padres Carmelitas a colaborar no Malawi, de facto era para ser uma presença de Igreja, para ser sinal de comunhão na Igreja. Como missionárias o nosso primeiro trabalho foi evangelizar nas aldeias da Missão. Nessa altura as irmãs eram heróicas! Deslocavam-se aos locais mais remotos, não apenas para ajudar a cuidar das almas mas também dos corpos. Nós somos alma e corpo, somos uma unidade; foi necessário abrir um pequeno hospital na Missão para cuidar da saúde do corpo e validar o anúncio da Boa Nova. A África é um continente doente, é um lugar onde existe muita doença. Um grupo de irmãs dedicou-se à catequese, à evangelização mais directa e outras dedicaram-se a cuidar do corpo. Ainda continuamos com essa actividade. Presentemente estamos na fase da promoção espiritual, retiros e acompanhamento espiritual. A nossa vida de missionárias carmelitas é estar sempre abertas às necessidades da Igreja e da população. E vamos dando resposta na medida do que vai surgindo. Hoje uma das grandes necessidades é atenção aos órfãos. Como missionárias, somos mulheres consagradas à oração, à contemplação e à missão activa. Procuramos compaginar isto dedicando-nos às nossas actividades. Os projectos futuros são simples: nós, as irmãs europeias já vamos avançando em idade. O Senhor também já nos deixa ver algum fruto do nosso trabalho: já temos muitas irmãs nativas, pelo que os projectos futuros consistirão em fortalecer a sua formação a fim de que sejam elas a assumir o carisma missionário carmelitano no contexto do uma trabalho da Missão. Estou convencida que o seu trabalho e dedicação serão melhores que o nosso, porque elas conhecem o seu povo; elas são sangue daquele sangue, encontram-se no seu próprio meio cultural, e como Carmelitas estão abertas às necessidades da Igreja, estão muito dispostas a colaborar.
quarta-feira, 15 de outubro de 2008
FESTA DE SANTA TERESA DE JESUS
«Uns quatro anos depois, talvez mais de quatro, recebi a visita de um franciscano, chamado, Frei Alonso de Maldonado, grande servo de Deus, e com os mesmos desejos do bem das almas que eu. Grande inveja lhe tive, vendo que podia realizá-los. Tinha chegado das Indias há pouco tempo e contou-me como por lá se perdiam muitos milhões de almas à falta de doutrina. Depois de nos ter feito um sermão e prática e animar-nos à penitência, partiu. Fiquei numa tristeza profunda e como fora de mim com a perdição de tantas almas. Recolhi-me a uma ermida e, com muitas lágrimas, clamei a Nosso Senhor suplicando-lhe que me desse meios de ganhar uma só alma, pois tantas o demónio levava. Pedia-lhe poder para a minha oração; outra coisa não estava a meu alcance. Sentia muita inveja dos que, por amor de Deus, podiam dedicar-se à salvação das almas, mesmo através de mil mortes». [Leitura do livro das Fundações de Santa Teresa de Jesus (1,7)]
terça-feira, 14 de outubro de 2008
ENTREVISTA COM A IRMÃ CIDÁLIA, MISSIONÁRIA
[ A Europa necessita de ser evangelizada! ]
Pode. Pode e deve-se. A Igreja é missionária. A Igreja ou é missionária ou não tem sentido de ser. O cristão ou evangeliza ou não existe. A missão não é só partir. O lugar da missão é onde estiver um baptizado. E a Europa necessita muito de ser evangelizada!
segunda-feira, 13 de outubro de 2008
Não ao chefe
Nunca tinha contemplado um chefe tão jovem e tão régio como ele...
Meus olhos cansados de sonhar sem dormir, esforçavam-se para não acreditar nesta visão heróica, tão oposta ao meu estilo de vida. Tremi de raiva cobarde quando reparei que ele me olhava...
Com voz forte, enquanto o seu olhar se mantinha docemente sobre mim, perguntou-me:
- Vens comigo?
Fiz como se não o tivesse ouvido e, dissimulando, disse qualquer coisa como:
- Eeeh...Quê?
A sua voz régia ouviu-se de novo:
- Perguntei se vens comigo?...
Gaguejando, respondi baixinho:
- Não posso...É que estou fechado...Sim, é que podes ver, fechado voluntariamente no belo e suave calorzito do meu ar condicionado...
Enquanto eu bocejava, a sua voz – a voz dele – ressoou majestosa, com a nobreza grande das cascatas eternas: Em marcha!!! Os seus soldados, decididos e voluntários, caminharam atrás dele sobre a brancura da neve pura. E as suas pegadas – as dele -, e as deles, ficaram marcadas profundamente, rasgando um caminho recto e novo para o sol.
Mas eu... eu, não. Preferi ficar aqui, detrás dos vidros embaciados, fechado docemente, comodamente, no calorzito próximo do meu ar condicionado privado.
[R. Tagore – adaptado]
domingo, 12 de outubro de 2008
ENTREVISTA COM A IRMÃ CIDÁLIA, MISSIONÁRIA
[ Hoje é mais difícil ser-se missionário na Europa ]
Hoje é mais difícil ser-se missionário na Europa que na África, porque em África encontramos um povo aberto a receber a mensagem da Boa Nova e na Europa muitas das vezes encontramos um povo apático, não digo ateu, mas é muito indiferente.
Aqui, o principal obstáculo ao anúncio da fé é a indiferença. Em África encontramos um sentido comunitário muito forte, aqui um individualismo; lá encontramos uma população jovem, dinâmica; aqui, muitas das vezes deparamo-nos com uma população envelhecida, cansada, desinteressada. Quem fica na Europa, quem é missionário sem partir é mais heróico do que aqueles que partem! Vós viveis num ambiente muito desfavorável à expansão do Evangelho. Viveis no anonimato e isso é terrível! Vós é que sois os heróis!
sábado, 11 de outubro de 2008
Missionários derramam o seu sangue a favor do Evangelho
«Era uma vez uma grande lagoa. Nela viviam peixes grandes, peixes médios e peixes pequenos. Havia muita fartura e alimentos para todos.
Mas, apesar disso, os peixes grandes nunca ficavam satisfeitos e, para completar suas refeições, comiam frequentemente os peixes pequenos. Também os peixes médios, talvez para se fazer de grandes, faziam a mesma coisa. E os peixes viviam no medo e na insegurança.
A situação para eles era muito precária, muito triste.
Havia porém um peixinho diferente. Ele procurava sempre o lado bom das coisas. Animava seus colegas. Era até um pouco poeta, um pouco artista. Passava horas nadando sozinho, observando as cores, as belezas da lagoa e sonhando horizontes de paz e de amor.
Certo dia ele fez uma descoberta. Estava a nadar no fundo da lagoa. De improviso, viu um buraco por onde entrava agua. Isso chamou-lhe a atenção. Pensou: “Se a agua sair pelo buraco e não voltar atrás, ela vai para outro lugar. ( Ele não sabia que havia outro lugar). Eu quero conhece-lo”.
Ele preparou-se para a grande viagem. Fez até um regime para passar melhor pelo buraco. E saiu da lagoa. Estava muito emocionado. Foi cair num riacho e conheceu a agua corrente. Deixava-se levar por ela, pulando nas pedras. Chegou a um rio grande e majestoso. E aí encontrou muitos peixes com quem criou laços de amizade. Havia também muito alimento. Era para ele um mundo novo de paz, fraternidade e fartura. O mundo de seus sonhos!
Quando, brincava, pulava em cima das águas conseguia enxergar as margens verdes e bonitas. Era feliz.
Mas, em sua felicidade, havia também uma ponta de tristeza que crescia sempre mais no seu coração: a saudade pelos companheiros peixinho, a preocupação e a angustia em pensá-los constantemente ameaçados de morte.
Sentia-se culpado por não partilhar com eles a alegria de viver num mundo de paz, harmonia e fartura.
Decidiu voltar para a lagoa. Quando chegou, reuniu todos os peixinhos e contou suas descobertas.
Convidou todos a irem com ele para este mundo novo.
Alguns peixinhos aceitaram e se prepararam para a viagem. Outros, mesmo acreditando, recusaram o convite por medo do sacrifício e do risco do novo. Outros ainda gozaram e chamaram de sonhador o peixinho que tinha trazido a boa notícia.
Houve também um que contou a história a um peixe médio que relatou tudo aos grandes. Eles se sentiram ameaçados nos seus privilégios e tiveram medo de perder parte de suas abundantes refeições.
Então reuniram-se e condenaram à morte o peixinho da boa noticia que eles chamavam de “saliente” e “ subversivo”. Um peixe médio, encarregado de fazer o serviço, o comeu numa hora em que estava sozinho.
É claro, os grandes festejaram, comemoraram e diziam: “Acabou a baderna, voltou a paz à lagoa!”
Os grandes estavam enganados. A boa noticia já estava espalhada. E muitos peixinhos e até alguns peixes médios e peixes grandes, que antes estavam desconfiados ou hostis, diante do sacrifício do peixinho morto, começaram a acreditar na sua mensagem.
Prevaleceu a ideia de que não era preciso sair da lagoa para realizar este mundo novo. O mundo novo podia acontecer dentro da lagoa. Era necesssário unir as forças para mudar as coisas, viver as leis do respeito por todos, da igualdade, da solidariedade e partilha, para que todos tivessem vida em abundância (cf. Jo 10,10).
A memória do peixinho morto se tornou estimulo de luta e compromisso e fonte de coragem e esperança nas difivuldades. Aliás, para todos, ele está vivo!
Conta a histoória que na lagoa muitas coisas melhoraram, mas tem ainda muita coisa a fazer. De vez em quando outros peixes morrem, cresce a força e a coragem de todos, como aconteceu com o primeiro peixinho que se sacrificou por todos».
sexta-feira, 10 de outubro de 2008
ENTREVISTA COM A IRMÃ CIDÁLIA, MISSIONÁRIA
[ Todos somos irmãos, mas somos muito diferentes! ]
Enfrentamos vários. De entrada, as línguas que são muitas e muito diferentes. Diferentes da nossa e também diferentes entre si. Depois enfrentamos o choque de culturas. É o choque principal. O choque de culturas é muito grande, realmente somos muitos diferentes na mentalidade, na maneira de ser e no estilo de vida. Nós missionários europeus nunca poderemos abdicar da nossa cultura; fazemos um esforço enorme por nos integrarmos. Temos as nossas raízes, mas somos plantados num solo diferente! Somos europeus em África! Realmente o choque de culturas é bastante grande. Mas na família de Deus todos somos família. Todos somos irmãos, mas somos muito diferentes!
Missão é sempre ir à Galileia de todos os continentes
«Vai meu irmão, minha irmã! Lá, em tua nova Missão, em tua nova terra, em tua nova pátria, anunciarás Jesus Cristo e o Seu Evangelho, servirás os pobres, os excluídos do banquete da vida, lavando-lhes os pés. Falarás com quem nunca andou ou não anda mais connosco. Tu te apaixonarás com muito carinho de um povo com cultura e tradições diferentes. Chegando lá, estranharás, sem dúvida, os costumes e usos locais. Mas não imporás as tuas ideias! Não apresentarás o país que te viu nascer como paraíso! Não dirás nunca que no lugar onde te criaste, as coisas são bem melhores! Não darás nunca a impressão de que vieste para ensinar, para civilizar, para instruir, para colonizar! Jamais violentarás a alma do povo que, doravante, será o teu povo! Oferecerás simplesmente o testemunho de tua fé, de tua esperança e de teu amor, e darás a tua vida até ao fim, até as últimas consequências! Assim, tu terás o privilégio e a felicidade de viver a graça de todas as graças! Encontrarás o Senhor que disse; Depois que eu ressuscitar, irei à vossa frente para a galileia” (Mc 14,28). Missão é sempre ir à galileia de todos os continentes…».
Dom Erwin Krãutler, Bispo do Xingu, Brasil
quinta-feira, 9 de outubro de 2008
Ser Carmelita
E com ela anunciar o Evangelho»
(João Paulo II)
quarta-feira, 8 de outubro de 2008
ENTREVISTA COM A IRMÃ CIDÁLIA, MISSIONÁRIA
5. Quais foram os acontecimentos mais significativos em terras de Missão?
[ Tudo Lhe pertence. ]
Foram muitos. Direi três.
Primeiro, eu cheguei ao Malawi — o meu primeiro destino, a minha primeira missão. Puseram-me ali como responsável da formação de raparigas que iriam ser Carmelitas como eu. Como não tinha preparação prévia foi um choque para mim. Mas eu confiei em Deus, até porque o rebanho pertencia ao Senhor. Eu pensei: se eu não fizer bem o meu trabalho Ele é que vai perder, eu simplesmente não perderei nada. Tudo Lhe pertence a Ele. Eu sou apenas um instrumento. Por isso vou fazer bem.
Este foi um desafio bastante grande para mim, quando eu só tinha 40 anos, e não tinha formação para formar outros. Muitas vezes me surpreendi a mim mesma a ter de tomar decisões, no meio duma cultura completamente diferente da que eu nascera e crescera. É diferente ter de decidir noutro contexto com parâmetros diferentes dos meus, e ainda por cima sem preparação.
Quando tomamos decisões é para acertar, e eu errei algumas vezes; mas dava mais valor quando tomava decisões acertadas. Então pensava: donde me vem esta força? Esta força vem de Alguém. Só podia vir do Senhor! Foi assim que aprendi a fazer fazendo.
Segundo, foi no ano 2001. Nesse ano houve uma grande fome no Malawi e isso foi uma experiência muito dolorosa para mim. Também aí aprendi a ver a mão de Deus. Na verdade, eu não sei donde me veio tanta força para colaborar com quem estava a meu lado. Era imperioso melhorar o sofrimento de tantos irmãos, que naquele momento estavam numa situação de vida ou morte… Eu vi um homem falecer na minha frente. Morreu de fome, claro. Esta foi uma experiência muito dura.
Eu não sei o que é uma depressão, mas penso que se a mão de Deus não estivesse a meu lado essa situação poderia ter levado a uma. Que fiz eu? Arregacei as mangas e pus-me a trabalhar. As chamadas eram tantas que eu não sabia para onde me virar ou a quem socorrer primeiro. Foi uma experiência muito dolorosa e de alguma revolta. Eu vi (e vejo!) como o mundo esbanja e nós ali não tínhamos o necessário para conseguir sobreviver. Mas também vi a mão de Deus em muitos casos. Eu vi as ajudas as chegar e ainda hoje não sei como chegaram! Um missionário nunca está só! Santa Teresinha do Menino Jesus, padroeira das missões, está connosco.
Terceiro: Mais tarde, eu estava muito contente no Malawi; muito feliz até. Aquela fora a minha primeira missão, era o meu primeiro grande amor. Gostava muito de lá estar e as pessoas gostavam muito de mim. Nessa altura, pediram-me para ir para outro país, para a Tanzânia. Vivi então outro momento muito duro na minha vida. Tive de dizer: Sim, Senhor, eu vou para onde Tu me disseres para ir. A minha vontade não é ir; eu não quero partir, mas eu vou! Deixei Malawi e fui para a Tanzânia, onde estou agora. Agora que já passou algum tempo vejo que foi uma graça de Deus ter ido. Hoje vejo que havia outros a precisar de mim.
Estes são os acontecimentos na minha vida que não teriam sucedido se não tivesse partido em missão. Estou muito contente, continuo a dar formação carmelitana e estou a prestar colaboração num orfanato de 40 crianças. Dou apenas uma pequena colaboração, porque o meu trabalho de formadora carmelita me absorve bastante. Trabalho com as noviças (as iniciantes na Congregação) e esse trabalho requer um acompanhamento constante. Porém, eu tiro sempre algum tempo para fazer trabalho complementar com os pobres.
terça-feira, 7 de outubro de 2008
O olhar enamorado do Pai
P. Guillet, missionário da Sociedade das Missões Africanas
segunda-feira, 6 de outubro de 2008
ENTREVISTA COM A IRMÃ CIDÁLIA, MISSIONÁRIA
[Se fores chamado não podes ignorar o convite. ]
É tão difícil responder… É preciso sentir. É preciso viver interiormente essa experiência. Eu diria que há uma maneira de descobrir: Se fores chamada não podes ignorar o convite. Quando tentamos fugir a essa realidade não nos sentimos em paz, porque isso é como um sino que ressoa, como uma companhia que está dentro de nós e toca, toca, toca… É um desejo enorme de realizar essa vocação. É uma inquietude.
A pergunta é um pouco difícil de responder. Entendo-a… Mesmo não sabendo expressar-me e responder-lhe bem! É algo mais forte do que possamos dizer por palavras. Digo-te assim: Todas as coisas que tive, todas as possibilidades que aqui possam despontar para mim não me satisfazem plenamente! Eu volto a dizer-te que só me senti completamente realizada como missionária quando estive em África. Em África é onde eu devia ter estado desde sempre. Eu devia ter nascido ali! Sei que o Senhor tem os seus caminhos e eu fiz o meu caminho no momento exacto.
Anunciar Jesus e descobri-lo já presente na vida
«Recordo quando pela primeira vez deixei minha terra de origem para vir ao Brasil. Foi uma viagem de navio de 12 dias.
Estava muito entusiasmado e espiritualmente motivado para anunciar Jesus Cristo ao povo na terra brasileira. Mas quando o navio entrou na Bahia de Guanabara e eu vi de longe a maravilhosa cidade do rio de Janeiro, fiquei impressionado admirado, no morro do Corcovado, o famoso Cristo redentor de braços abertos. Logo pensei: «Eu vim para anunciar Jesus Cristo, mas ele já chegou antes de mim e me espera de braços abertos».
domingo, 5 de outubro de 2008
ENTREVISTA COM A IRMÃ CIDÁLIA, MISSIONÁRIA
3. A sua vida é uma vida dedicada as Missões, primeiro em Portugal e depois mais de 13 anos em África. Como nasceu no seu coração o desejo de ser missionária?
[ Eu trago a África no coração! ]
É dom de Deus. É um desejo que eu sempre tive desde miúda. E foi crescendo através de uma revista dos Combonianos, de quem eu sou muito amiga, uma revista que se chama Além Mar. Foi nessa revista que eu comecei a ter contacto com a vida dos missionários: ainda quase nem sabia bem ler! Era uma revista a preto e branco que me cativava, que exercia sobre mim muita atracção. Eu costumo dizer que o Senhor se serviu dessa revista para despertar em mim a vocação missionária.
A vocação missionária sempre me atraiu muito, pelo que sempre quis ir para a missão. Quando entrei para a congregação das Carmelitas Missionárias, por uma coisa ou por outra, atrasaram-me um pouco a ida para terras de missão. Devo dizer-te que eu sempre fui muito feliz nas Carmelitas Missionarias, mas nunca fui tão feliz como em África! De facto vivi cá e noutros países da Europa como missionária, mas sou verdadeiramente feliz como missionária em África!
Quando cheguei a África eu disse que aquele era realmente o lugar onde sempre eu quisera estar. Existem muitas dificuldades lá. Mas se me ponho a pensar nas dificuldades, jamais penso em fugir ou regressar. Nunca penso no regresso, mas em lutar. Eu fui muito feliz aqui, mas essa felicidade aumenta quando eu chego a África.
Eu trago verdadeiramente a África no coração!
sábado, 4 de outubro de 2008
O poder da amizade
«Numa aldeia vietnamita, um orfanato dirigido por um grupo de missionários foi atingido por um bombardeamento. Os missionários e duas crianças tiveram morte imediata e as restantes ficaram gravemente feridas. Entre elas, uma menina de oito anos, considerada em pior estado. Era necessário chamar ajuda por um rádio e, ao fim de algum tempo, um médico e uma enfermeira da Marinha dos EUA chegaram ao local. Teriam que agir rapidamente, senão a menina morreria, devido aos traumatismos e à perda de sangue. Era urgente fazer uma transfusão, mas como? Reuniram as crianças e, entre gesticulações, arranhadas no idioma, tentavam explicar o que se estava a passar e que precisariam de um voluntário para doar sangue. Depois de um silêncio sepulcral, viu-se um braço magrinho levantar-se timidamente. Era um menino chamado Heng. Ele foi preparado às pressas, ao lado da menina agonizante, e espetaram-lhe uma agulha na veia. Ele mantinha-se quietinho e com o olhar fixo no tecto. Passado algum momento, deixou escapar um soluço e tapou o rosto com a mão que estava livre. O médico perguntou-lhe se estava a doer, e ele disse que não, mas não demorou muito a soluçar de novo, contendo as lágrimas. O médico ficou preocupado e voltou-lhe a perguntar e novamente o menino negou. Os soluços ocasionais deram lugar a um choro silencioso, mas ininterrupto. Era evidente que alguma coisa estava errada. Foi então que apareceu uma enfermeira vietnamita de outra aldeia. O médico pediu-lhe que ela procurasse saber o que se estava a passar com Heng. Com voz meiga e doce, a enfermeira foi conversando com ele e explicando-lhe algumas coisas. E o rostinho do menino foi se aliviando. Minutos depois ele estava novamente tranquilo. A enfermeira então explicou aos americanos:
- Ele pensou que ia morrer, não tinha entendido o que vocês lhe disseram e pensava que ia dar todo o seu sangue para a menina não morrer.
O médico aproximou-se dele e, com a ajuda da enfermeira, perguntou:
- Mas, se era assim, porque se ofereceu para dar sangue?
E o menino respondeu, simplesmente:
- Ela é minha amiga...»
quinta-feira, 2 de outubro de 2008
ENTREVISTA COM A IRMÃ CIDÁLIA, MISSIONÁRIA
2. O que é para si ser Carmelita Missionária?
[ Eu só poderia ser Carmelita Missionária! ]
Eu dir-te-ia que hoje eu já não poderia ser outra coisa! Vendo bem, eu só poderia ser Carmelita Missionária!
Eu tinha 20 anos, ou menos, quando senti com muita força a chamada do Senhor para ser missionária. Foi então que comecei a procurar uma Congregação que tivesse missões. E por acaso caí aqui nesta casa, no Carmo de Viana do Castelo, e um Padre, o Padre Manuel Brito, orientou-me para Carmelita Missionária. Ao princípio ser Carmelita Missionária ou pertencer a outra Ordem religiosa não tinha para mim grande significado. Mais tarde fui purificando essa chamada do Senhor e fui entendendo-a melhor. Por isso eu digo que hoje olho para todas as outras Congregações religiosas, mas eu só poderia ser Carmelita Missionária. Eu já me identifiquei com esta, com o carisma carmelita, que no nosso caso é ser sinal de comunhão no mundo. Eu já me identifiquei tanto com esta família, que eu já não saberia ser outra coisa!
quarta-feira, 1 de outubro de 2008
Santa Teresa do Menino Jesus, virgem e doutora da Igreja
Santa Teresinha, florzinha tão amada pelo Mundo
Santa Teresinha,
Florzinha tão amada pelo mundo,
encoraja-nos a voar para que não fiquemos imóveis
nas planícies da vida.
Faz com que sejamos aves velozes
capazes de subir mais alto,
tão alto que alcancemos a altura da cruz.
Guarda o nosso olhar no tesouro do teu coração,
onde mora um amor que não falece mas que transforma.
Oh pequena grande alma,
por mais lágrimas que possamos derramar
não deixes que se apague em nós a luz divina…
Leva-nos a Jesus
E fixa-nos no ditoso Sacrário,
Semeia centelhas de luz
nos caminhos missionários da nossa vida.
Faz-nos apóstolos convictos deste mundo
onde se imortalizam heróis de papel
e ensina-nos a derramar o sangue pelo Evangelho
onde tudo é graça, tudo é dom.
Ámen.