sábado, 18 de outubro de 2008

ENTREVISTA COM O CARMELITA JOÃO DE SOUSA, MISSIONÁRIO


Que idade tinhas quando foste para as missões?
Trinta feitos… O P. Fidel, Provincial, perguntou-me um dia se estava se estava disposto a seguir… e eu disse: Sim! Eu sempre fui de dizer sim aos superiores.

Como foi a organização?
O P. Ângelo Ferreira e o Irmão Matias estiveram na Missão de Lourenço Marques; eu e o Irmão Manuel Vieira em Freixiel. Era a mesma Diocese, e o bispo era D. Custódio Alvim Pereira.
Mas o Irmão Manuel só viveu comigo três ou quatro meses. Ele não se aguentou, aquilo era muito duro… é preciso ter estômago, resistência.

P. Sousa, ainda és missionário?
Eu sei lá o que sou… Claro que sou! Eu fui e sou um missionário de coração e de corpo inteiro. A missão não acaba nunca, nem cem anos depois de morrermos!
Quando embarquei parti sonhador e com imenso gosto. Mas hoje já não partiria, já não tenho forças. Nem por obediência partiria, acho eu…
Sabes que quando começou a guerra nós viemos de férias. A ideia dos superiores era que não regressássemos. Mas eu enfrentei os superiores que me queriam reter aqui. Julgo que fui valente naquela altura. Disse-lhes que tínhamos que lutar ao lado daquela Igreja pobre, que a Ordem não estava assim tão pobre que não pudéssemos lutar e trabalhar com a Igreja moçambicana… e que bem me podiam dispensar… Pedi para falar com o Provincial, que me disse: «Autorizo que tu regresses às Missões!». E eu para lá regressei contente!
Aqueles eram tempos novos e desafios novos que se apresentavam. Eu só fiquei obrigado a uma coisa: entender-me com o sr. Bispo e a avaliar a situação: «Quando vires que não der, regressa. És livre.», disse-me o Provincial. E olha que me entendeu melhor que os nossos daqui.

E eu que tinha a ideia que tu te recusaras a regressar? Que te obrigaram a vir…
Sim. E também ouves a falar um para cada lado, e perguntas… o que percebem eles? Eu tinha já uma certa ideia das missões da Ordem, na América e na Índia e havia mais que um ou dois frades que deram nome a Navarra…

Sim e que agora vão a santos… mas tu parece que querias ser mártir… com tanto esforço e sacrifício…
Não. Não queria. Mas tive de vir quando queria ficar mais tempo. As coisas ficaram muito difíceis. O sr. Bispo mostrou-se sempre disponível, mas a guerra tornou tudo impossível.

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