sábado, 1 de maio de 2010

À Virgem Santíssima


Num sonho todo feito de incerteza,
De nocturna e indizível ansiedade
È que eu vi o teu olhar de piedade
E (mais que piedade) de tristeza...

Não era o vulgar brilho da beleza,
Nem o ardor banal da mocidade...
Era outra luz, era outra suavidade,
Que até nem sei se as há na Natureza...

Um místico sofrer... uma ventura
Feita só de perdão, só da ternura
E da paz da nossa hora derradeira...

Ó visão, visão triste e piedosa!
Fita-me assim calada, assim chorosa...
E deixa-me sonhar a vida inteira!

[Antero de Quental]

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