segunda-feira, 8 de março de 2010

“Adquirir a sua alma na paciência".


Quando juntamos as palavras e ponderamos como é que um homem as pode pôr em prática, então a primeira coisa que se requer é que tenha paciência para compreender que não se possui a si mesmo; que tenha paciência para compreender que uma aquisição da sua própria alma na paciência é uma obra da paciência e que, portanto, não deve atender à paixão que, com razão, só pensa que pode crescer na impaciência. O enunciado inculca-o de duplo modo, por, na sua brevidade, compreender uma repetição que reduplica. Ele exorta a adquirir a sua alma "na paciência" e exorta a "adquiri"-la. Esta última expressão compreende só por si uma exortação à paciência. Ela não diz: agarra a tua alma, como se fosse obra de um instante, como se a alma passasse à sua frente e se tratasse de agarrar o instante e a alma, mas com isso ficasse tudo ou perdido ou conquistado. Também não diz: salva a tua alma, uma expressão que a Escritura, de resto, muitas vezes utiliza com a sua santa seriedade. E é igualmente certo que aquele que adquire a sua alma também a salva. Mas a expressão "salvar a alma" não fixa assim o espírito na paciência e poderia facilmente fazer pensar numa pressa em que tudo tivesse de ser decidido. Pelo contrário, adquirir a sua alma inclina logo o espírito para a tranquila, mas incansável, ação.
[Søren Kierkegaard]

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