domingo, 28 de março de 2010

Os Samaritanos

O vento agita os palmeirais distantes.

Eis chegam de Sicar os habitantes,
ouvindo que está perto a Vida Eterna, a buscar o Rabi, junto à cisterna,
que é perto de Sicar em Samaria.
Voam pombas no azul, ao fim do dia.
O Rabi fala a todos, mansamente.

- «Como é que o Rabi trata com tal gente?»,
rosnam baixo os que o seguem, aturdidos.
- «Não são estes uns homens pervertidos,
uns entes asquerosos, repelentes,
desprezados dos Povos e das Gentes,
alcunhados de imundos pela Lei?»

- «Não são homens sem cultos e sem rei»
- murmuram baixo, torvos, furibundos,
na treva, os Anciãos - «estes imundos
e sórdidos ateus Samaritanos?
Como é que pois fala a tais profanos?
Como é que os ouve e toca, sem receio?»

- Mas o Rabi, tranquilo, vai no meio,
calado, a pé, o manto sobre os ombros,
sem fazer caso algum dos seus assombros,
tratando bem o vil e o miserável,
igual ao Sábio calmo e inquebrantável.,
e ao Sol justo, ao Sol grande e protetor:
- para os quais são iguais o sapo e a flor.

[Gomes Leal]

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