quarta-feira, 8 de outubro de 2008

ENTREVISTA COM A IRMÃ CIDÁLIA, MISSIONÁRIA


5. Quais foram os acontecimentos mais significativos em terras de Missão?

[ Tudo Lhe pertence. ]

Foram muitos. Direi três.

Primeiro, eu cheguei ao Malawi — o meu primeiro destino, a minha primeira missão. Puseram-me ali como responsável da formação de raparigas que iriam ser Carmelitas como eu. Como não tinha preparação prévia foi um choque para mim. Mas eu confiei em Deus, até porque o rebanho pertencia ao Senhor. Eu pensei: se eu não fizer bem o meu trabalho Ele é que vai perder, eu simplesmente não perderei nada. Tudo Lhe pertence a Ele. Eu sou apenas um instrumento. Por isso vou fazer bem.
Este foi um desafio bastante grande para mim, quando eu só tinha 40 anos, e não tinha formação para formar outros. Muitas vezes me surpreendi a mim mesma a ter de tomar decisões, no meio duma cultura completamente diferente da que eu nascera e crescera. É diferente ter de decidir noutro contexto com parâmetros diferentes dos meus, e ainda por cima sem preparação.
Quando tomamos decisões é para acertar, e eu errei algumas vezes; mas dava mais valor quando tomava decisões acertadas. Então pensava: donde me vem esta força? Esta força vem de Alguém. Só podia vir do Senhor! Foi assim que aprendi a fazer fazendo.

Segundo, foi no ano 2001. Nesse ano houve uma grande fome no Malawi e isso foi uma experiência muito dolorosa para mim. Também aí aprendi a ver a mão de Deus. Na verdade, eu não sei donde me veio tanta força para colaborar com quem estava a meu lado. Era imperioso melhorar o sofrimento de tantos irmãos, que naquele momento estavam numa situação de vida ou morte… Eu vi um homem falecer na minha frente. Morreu de fome, claro. Esta foi uma experiência muito dura.
Eu não sei o que é uma depressão, mas penso que se a mão de Deus não estivesse a meu lado essa situação poderia ter levado a uma. Que fiz eu? Arregacei as mangas e pus-me a trabalhar. As chamadas eram tantas que eu não sabia para onde me virar ou a quem socorrer primeiro. Foi uma experiência muito dolorosa e de alguma revolta. Eu vi (e vejo!) como o mundo esbanja e nós ali não tínhamos o necessário para conseguir sobreviver. Mas também vi a mão de Deus em muitos casos. Eu vi as ajudas as chegar e ainda hoje não sei como chegaram! Um missionário nunca está só! Santa Teresinha do Menino Jesus, padroeira das missões, está connosco.

Terceiro: Mais tarde, eu estava muito contente no Malawi; muito feliz até. Aquela fora a minha primeira missão, era o meu primeiro grande amor. Gostava muito de lá estar e as pessoas gostavam muito de mim. Nessa altura, pediram-me para ir para outro país, para a Tanzânia. Vivi então outro momento muito duro na minha vida. Tive de dizer: Sim, Senhor, eu vou para onde Tu me disseres para ir. A minha vontade não é ir; eu não quero partir, mas eu vou! Deixei Malawi e fui para a Tanzânia, onde estou agora. Agora que já passou algum tempo vejo que foi uma graça de Deus ter ido. Hoje vejo que havia outros a precisar de mim.
Estes são os acontecimentos na minha vida que não teriam sucedido se não tivesse partido em missão. Estou muito contente, continuo a dar formação carmelitana e estou a prestar colaboração num orfanato de 40 crianças. Dou apenas uma pequena colaboração, porque o meu trabalho de formadora carmelita me absorve bastante. Trabalho com as noviças (as iniciantes na Congregação) e esse trabalho requer um acompanhamento constante. Porém, eu tiro sempre algum tempo para fazer trabalho complementar com os pobres.

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