terça-feira, 28 de outubro de 2008

É a fome que pede o pão.



«Três companheiros aventuraram-se ao deserto, sem saber lá muito bem os que o esperava por esses areais. Depois de percorrer horizontes sem fim e canículas que só o deserto podia cozinhar, as provisões chegaram ao fim e os três aventureiros não sabiam o que fazer à vida. restava-lhes apenas uma pequena provisão, que, era evidente, não chegava para os três. Quando muito daria para ajudar um a subsistir e levar a cabo a travessia. O problema agora era escolher o sobrevivente, já que isso implicava a morte dos outros dois. È claro que cada um advogava a sua própria causa, por motivos, cada qual o mais convincente, mas por aí nunca se chegaria a um acordo.
Resolveram então esperar pela noite e conforme o sonho que cada um tivesse para resolver esta situação, assim se decidiria.
Seu dito, seu feito. Ao outro dia, ainda o sol se espreguiçava nesses orientes de Seca e Meca e já os três estavam com as cartas em cima da mesa. Para contar o sonho que os salvaria da morte anunciada.
O primeiro sonhou que, ali mesmo, em pleno deserto, encontrara um velho beduíno, homem de rara sabedoria e de sentença certeira, que, depois de ouvir o seu caso, fora peremptório: ele mesmo deveria comer o farnel, pois que era um homem bom e edificante como já se não via e o nosso mundo tem falta desses homens que, mais que pelas obras, falam por aquilo que são.
O segundo, no seu sonho viu um anjo que o confortava e o convenceu que o sobrevivente devia ser ele. Homem serviçal como ele, sempre pronto a abrir a bolsa ao primeiro que estendesse a mão, fazia falta a este mundo tão povoado de egoístas e desaforos que só imagina quem anda por cá.
O terceiro tinha ares de um pouco comprometido. De admirar nele que encontrava sempre a solução justa para qualquer imprevisto que aparecesse. Despachado como era, não esteve com meias medidas e foi direito ao assunto. Não tivera sonho nenhum, ninguém lhe apareceu, por mais que velasse e matutasse. Mas confessou que sentiu dentro de si uma fome tamanha que foi ao farnel e comeu, sem tempo nem disposição para pensar em mais nada».
[In Sereis minhas testemunhas, Adélio Torres Neiva]


Os caminhos que percorremos estão abertos e, na entrada destes caminho talvez não nos tenhamos apercebido do seguinte dístico: Decide e arrisca! Nestes caminhos que traçamos há momentos para parar, para reflectir, para estarmos a sós e em grupo, mas acima de tudo há momentos para decidir e arriscar! «Esta é a vontade de Deus, a vossa santificação» (1Tes 4,3). Qual será a tua resposta ao apelo de Deus?

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